Cada vez me convenço mais de que as histórias de amor por começar, inacabadas ou mortas à nascença, são inadvertidamente as que duram para sempre.
Em «O Teu Deserto» um homem decide começar a escrever uma história, até então, escondida no seu passado, talvez pelo medo de enfrentar verdades irrevogáveis e finitas.
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«Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer."
A história retrata a viagem de um homem e de uma jovem, ao deserto. Ele fotojornalista, ela envolta num mistério de quem se tenta encontrar a si mesma.
A viagem é recheada das peripécias mais ou menos previsíveis neste tipo de contexto, contudo, acredito que mais do que a viagem propriamente dita, o que conta nesta pequena história, são as viagens interiores de cada uma destas personagens.
Há silêncios que afirmam a certeza da proximidade de duas pessoas. Há certezas de que tal proximidade não reclama dias, semanas e anos para se solidificar. Na verdade, bastaram quatro dias para que a relação deles, até então meros desconhecidos, se tornasse especial.
O amor tem destas coisas. Seja lá de que tipo, duração ou previsão.
O livro de Miguel Sousa Tavares, mais do que centrado numa viagem inesquecível ao deserto, sublinha a importância vitalícia de um alguém que sabe fazer, por nós, a diferença que agita e permite reviver memórias acompanhadas. Talvez por isso muito mais felizes, independentemente do seu fim.
Um livro de memórias, um livro de superação através da escrita, que dá forma, que traz sentido a uma dor que reclama lugar.
Que reclama um nome.
Uma boa surpresa.
Boas leituras.
2 comentários:
Olá, amei a citação do livro.
"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer."
Uma grande verdade, concorda Kelly?
Obrigada pela visita.
Beijinhos e muitas leituras!
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