Em «A distância entre mim e a cerejeira», da italiana Paola Peretti, conheceremos a história de Mafalda, uma menina afetada pela doença de Stardgardt, uma doença genética que provoca a perda de visão. A menina de nove anos sabe que, mais cedo ou mais tarde, perderá por completo a visão e o escuro que teme, tomará conta dos seus dias.
Algumas notícias deviam vir sempre acompanhadas de um gato para abraçar.
Uma história autobiográfica, centrada na vida da própria autora, este é um livro que compra a atenção às maiores prioridades da vida. É um livro de superação, de esperança e, paradoxalmente, de um abrir de olhos para o que nos é, verdadeiramente, essencial. Tal como o Principezinho que ficou abismado por nenhum adulto conseguir compreender o desenho da sua jiboia, apreensivo pela incapacidade de enxergar dos adultos, também Mafalda virá a perceber a grande máxima de que «o essencial é invisível aos olhos».
"(...) É estranho sentir-me com sorte pelo que se pode fazer mesmo sem os olhos. E sem óculos."
O percurso da história acompanha o declínio da visão de Mafalda. O sonho desta menina é viver, para sempre, na cerejeira da escola. Aquela cerejeira sempre fora a sua árvore preferida, tendo por lá brincado e sonhado inúmeras vezes. Será o lugar ideal para conviver com o escuro e as manchas cada vez maiores e mais presentes nos seus olhos. Levará consigo o seu gato e a lista de coisas que sempre quis ter e fazer.
São 140 passos que a separam da cerejeira. Será ao longo desse trajeto que teremos a oportunidade de conhecer esta menina, os seus anseios, a sua inocência e a capacidade, ainda assim, de manter viva a luz de um sonho que perdura para lá dos 180 dias que a separam da escuridão eterna.
Uma história escrita com a sensibilidade na ponta dos dedos e com o coração na garganta, «A distância entre mim e a cerejeira» é um hino ao amor e à amizade no seu estado mais bruto, à capacidade de superação para lá das adversidades, um estalo de luva branca na busca daquilo que nos é essencial. E esse essencial é sempre invisível aos olhos, rompe com a necessidade de mostrar e de ter. É tão somente a certeza de não estarmos sozinhos, de termos encontrado um amigo do coração. Tudo o resto, é passível de ser encarado, aceite e superado.
Uma história comovente incapaz de deixar os leitores indiferentes, «A distância entre mim e a cerejeira» é um daqueles livros necessários como alerta constante para a necessidade de saber olhar para dentro, separar o trigo do joio, encontrar o essencial numa vida feita de pequenos nadas.
A vida não é mais do que uma cerejeira que nos mostra o quanto é possível mudarmos como as estações do ano e, ainda assim, mantermo-nos firmes na convicção de que tudo se renova, de que tudo permite uma nova perspetiva, um novo olhar.
Assim seja.
Com o apoio,
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