"A criança ensina ao adulto uma outra coisa sobre o amor: que o amor genuíno implica uma tentativa constante de interpretar com a máxima generosidade o que possa estar a passar-se, em qualquer momento, sob a superfície de um comportamento difícil e desagradável.
Os pais têm de adivinhar o que quer dizer realmente o grito, o pontapé, o desgosto ou a cólera. E o que distingue este projeto de interpretação - e o torna tão diferente daquilo que ocorre na relação adulta vulgar - é a sua caridade.
Os pais tendem a partir da presunção de que os filhos, embora possam estar perturbados ou a sofrer, são fundamentalmente bons. Logo que o particular alfinete que os está a picar for corretamente identificado será restaurada a sua inocência natural. Quando as crianças choram não as acusamos de serem más ou autocomiserativas; pensamos no que poderá tê-las alterado. Quando mordem sabemos que devem estar assustadas ou momentaneamente irritadas. Somos sensíveis aos efeitos insidiosos que a fome, um trato digestivo complicado ou a falta de sono podem ter no seu estado de espírito. Que bondosos seríamos se conseguíssemos importar nem que fosse um bocadinho desse instinto para as relações adultas - se, também aqui, pudéssemos olhar para além da má-disposição e da malevolência e reconhecer o medo, a confusão e a exaustão que quase invariavelmente lhes subjazem. Era o que significaria olhar com amor para a raça humana."
Alain de Botton in «O Curso do Amor» | p.124
Pense nisto.
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