"Podemos dar à arte de
amar o objeto de uma faca de dois gumes.
De um lado mata, do outro morre. Em nenhum desses gumes encontramos a parte
do à sua mercê, minha excelência. A
entrega à mercê do outro seria um gume?
A arte do despejo de
si mesmo é essa faca, de um, dois ou três gumes. Como uma real ordem de
despejo, levada pela corrente de prestações vencidas, há alguém que lhe abre o
coração, despojado de bibelôs que mascaram o verdadeiro material do móvel.
Escancarado, deixa-o à mercê. Deixa-o vulnerável. Entra num incumprimento de
fidelidade pessoal, com partilhas e segredos que escorrem da boca, apressados,
tão negligentes.
Seja arte, seja martírio,
amor que é amor faz-se acompanhar de facas. As mais afiadas para pontas de
língua que ardem pelo que não dizem. Que se cortam pelo que dizem. E as mais
fortes para um corte alinhado no momento certo.
Você talvez me entenda quando lhe digo que nos amores há sempre um momento certo em
matéria de gumes e pontas de língua."
(Obrigada, Clarisse)
Sempre.
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