Se a minha abordagem a esta história exigisse um título, seria algo como "A vida entre nós e a teoria do caos familiar." Muito pomposo, eu sei. Não me ocorre nada melhor e que possa fazer tanto sentido quando viro a última página deste livro.
«A mulher entre nós» de Greer Hendricks e Sarah Pekkanen conta-nos a história de Vanessa, confrontada com o o divórcio após dez anos de casamento e que não aceita a coragem do seu ex-marido em refazer a sua vida amorosa, agora, junto de uma mulher dez anos mais nova. Esta mulher, Nellie, está no viço da idade, vive o esplendor de um corpo rijo, sem mácula. Está segura de uma juventude vitalícia.
Este é um livro de surpresas. Uma teoria do caos muito inesperada. Não falamos propriamente de um bom livro em termos literários, contudo, é uma história que pela sua intrincada linha de acontecimentos, deixa no leitor a urgência de questionar essa teia que parece urdir sempre em torno de uma teoria do caos familiar.
Eis que «A mulher entre nós» desperta no leitor essa teoria improvisada do caos familiar, bem ao jeito de um castelo de cartas e um vento que se lhe deu. Já parou para pensar no número de vezes em que uma atitude sua, consciente ou inconsciente, se refletiu na vida de alguém? Já parou para pensar nessa fina teia de acontecimentos na qual, eu, você e todos os outros, se entrelaçam na sequência de um destino? Agora aplique toda esta teoria ao sistema familiar e temos reflexão para a vida toda.
Assustador ou abismal? Ambos, eu diria.
As autoras conseguem incutir no leitor a obrigatoriedade de pensar no quanto um gesto pode mudar a vida de alguém, seja esse gesto lançado por bondade ou não. Tantas vezes lançado numa indiferença de quem desconhece. Eis o ponto de toda a história, numa aparente indiferença.
Esta é a história de uma mulher que se sente traída, enganada pelo seu marido e pelo seu corpo que cedeu rapidamente ao avançar dos anos. É uma história sobre o amor e o quanto estamos empenhados em fazer de tudo para vingar o nosso lugar. Mas mais do que tudo isso, este livro fala-nos do quanto somos capazes de nos centrar nas próprias dores desconhecendo, numa indiferença inocente, o quanto alguém vive dor semelhante no reflexo dos nossos próprios atos.
Independentemente dos assuntos relacionados com o casamento e as suas particularidades, com as fraquezas que cada um tem, com as cedências sempre à espreita para assumirem lugar, esta ideia de teoria do caos provocada, tantas vezes, por quem está ao nosso lado - e sem saber - é, para mim, o aspeto mais promissor e singular deste livro.
É um livro de surpresas, arrisco-me a repetir. O leitor lançado nas duas primeiras partes jamais imaginará o que o aguarda no final. É uma surpresa que se vai revelando, como tudo na vida. O melhor? É que nem sempre aquilo que tomamos como certo, o é, de facto.
Vanessa, Nellie e Richard são prova viva disso mesmo.
Se está curioso, consegui o meu propósito.
Agora, vá ler. Por favor.
Com o apoio,
Seja feliz,
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