Budapeste (Chico Buarque)

quarta-feira, 9 de outubro de 2019


«Budapeste», livro de Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019 (Edição Companhia das Letras), obriga-me à clássica comparação das bonecas russas. É uma história com muitas outras dentro. É um livro que nos fala sobre um escritor que, por sua vez, escreve livros para outros. Os livros que escreve parecem ter vida própria e uns laivos, aqui e ali, de premonições. São premonições que se colam a esse mundo um tanto distorcido de José Costa, a nossa personagem principal.

Este homem é um ghost-writer de enorme talento. Chegará um momento, após ter escrito uma biografia encomendada, em que os astros se alinham com a sua vontade, sempre muito incrustada entre momentos de procrastinação e descrença pessoal, para escrever a chamada "boa literatura".

O livro, tal como nós leitores, viajará muito. Após regressar de um congresso de escritores anónimos, José Costa vê-se obrigado a fazer escala em Budapeste. Será neste momento em que a viragem na sua vida se dá da forma mais cómica e desastrosa possível. Chegará um momento, na leitura, em que perdemos o pé e já não sabemos muito bem onde se encontra este homem tão perdido em si mesmo.

«Budapeste» é escrito por mão leve, balanceado entre o típico samba e os tons tão amarelos que Costa viu em Budapeste. São dois lugares, são histórias que se cruzam num livro vivo e um homem também ele dividido em dois, na igual sombra de duas mulheres.

Chico Buarque oferece-nos um livro sobre um homem perdido na sombra de um trabalho seu sem ser, na sombra de uma vida que é sua sem ser: uma soma de ausências que o parecem definir (quase) até à última página.


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