A Estrada Subterrânea (Colson Whitehead)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017


 
«A Estrada Subterrânea» de Colson Whitehead, vencedor do Prémio Pulitzer 2017 e o National Book Award 2016, ambos para ficção, conta-nos a  história de vida dos antigos escravos numa plantação  de algodão no estado sulista da Georgia, centrada na jornada de uma jovem mulher, Cora.
"Cora é uma jovem escrava numa plantação de algodão. Parece-lhe impossível fugir ao seu destino sombrio. Até que ouve falar da estrada subterrânea."
Cora, cujo pai morreu ainda antes dela nascer e cuja mãe a abandonou, também ela para fugir, é solitária, peculiar e determinada. Nunca lhe parecera possível escapar do destino cruel em que vivia, no entanto, a chegada de Caesar à plantação, muda-lhe o rumo. A estrada subterrânea surge como a possibilidade de uma fuga tantas vezes idealizada.
 
A título de curiosidade, não há, na verdade da História, uma estrada subterrânea propriamente dita. O que naquele tempo se emergia perante a vida pautada de crueldade para com os escravos, era uma rede de apoio através de vários abolicionistas que, contra todo o sistema, facilitavam os meios possíveis para a fuga dos escravos que decidiam fugir, arriscando eles próprios a sua vida. Entre negros e brancos.
 
O autor refere-se a esses caminhos de uma forma sublime e quase fantástica. Há uma salvação em cada estrada subterrânea, uma esperança que se estende até à próxima paragem, incutindo-lhe características tão específicas que, até ao leitor mais desatento, não as esquecerá. Tornam-se reais pela força, provável, de se quererem verdadeiras.
 
É nesse misto entre a ficção e a crua realidade da escravidão, que Whitehead nos aflige, nos inquieta e nos obriga a refletir sobre um período na história do qual, de alguma maneira, todos nós fazemos parte.
 
Cora representa uma época: o martírio de quem suporta uma vida pautada por abusos, uma desumanidade que nos dói crer e depois, o sonho e a esperança. O amor também.
 
"(...) é algo em que qualquer escravo está sempre a pensar: de manhã, à tarde e à noite. A sonhar. Todos os sonhos são de fuga, mesmo que não pareçam."
 
Numa escrita que apavora, com a mestria de nos transferir, de rajada, para um outro tempo, assusta e prende. Afinal, poderá Cora ser verdadeiramente livre depois de tamanhas provações?
Um livro que reúne um pouco de cada coisa em si mesmo: é um romance, é uma fantasia e é, acima de tudo, uma viagem. Uma viagem de quem foge para se tentar encontrar lá mais à frente.
Cora é, indubitavelmente, uma personagem da literatura que ficará para sempre.
Leia. Conheça. Depois diga-me de sua justiça.

Que livro lindo.
 
 
 
Com o estimado apoio:

6 comentários:

Carlos Faria disse...

Por norma não leio livros com estórias de escravatura, contudo, esta semana já é a segunda vez que me propõem este livro

Denise disse...

Carlos, corra o risco.
É tão bom! :)

Boas leituras

Su disse...

Olá, Denise,

A colocar na minha wihlist...
Há temas que valem a pena ser lembrados :C

beijinhos e que continuem as boas leituras

Denise disse...

Olá Su!

Um livro muito bom, apesar da delicadeza do tema.
Espero que gostes :)

Beijinhos e muitas, muitas leituras!

Denise disse...

Olá Lauren :)
Gostei muito também.

Obrigada eu, pela visita!
Beijinho

Carlos Faria disse...

Encomendei este livro ontem mesmo, depois talvez tenhamos oportunidade de trocar opiniões sobre ele

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