O Jardim das Borboletas (Dot Hutchison)

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

«O Jardim das Borboletas» de Dot Hutchison irá, certamente, provocar-lhe uma revolta nas entranhas. O leitor viverá numa eterna curva de Gauss cujas probabilidades de consternação, irritação, impotência e uma náusea sem fim, serão altamente garantidas.
 
Não estamos a falar de um livro que não supere expectativas. Não é bem essa a questão. Estamos, antes, a falar de um livro que pela temática em si, choca e oprime.
A história começa com um relato policial sobre a existência de um misterioso jardim com direito a borboletas e um empenhado Jardineiro. Esqueça agora os filmes da Disney porque: 1) as borboletas são raparigas e 2) o Jardineiro guarda-as em cativeiro para abusos de toda a espécie. 
 
Independentemente da escrita pouca madura de Dot Hutchison, esta é uma história que o prenderá pela curiosidade. São muitas as pontas soltas capazes de o fazer refletir: a personalidade do Jardineiro, dos seus filhos e, sobretudo, das meninas que representam as borboletas.
 
Ao mais astuto não faltarão as questões perante algumas atitudes e condutas por parte das raparigas, mais especificamente, a personagem principal, Inara.
Com é possível, perguntariam, uma jovem violada constantemente, entregar-se de ânimo leve ao filho do Jardineiro? Em que o sexo com ele chega a ser "(...) divertido."?
 
É possível sim. A Psicologia poderá explicar isto com base em duas Síndromes similares: A Síndrome de Estocolmo (simpatia gerada na vítima pelo abusador) e a Síndrome de Lima (inversamente, o abusador desenvolve sentimentos de afeto pela vítima). O ponto alto deste livro, pessoalmente, é que é possível interpretar e localizar as duas síndromes na história.
Há, no entanto, um objetivo particular na Síndrome de Estocolmo: a adaptação psicológica para a sobrevivência. É neste ponto que a complexidade humana só se vem a comprovar através das aparentes distorções de conduta numa situação de extrema pressão psicológica.
 
«O Jardim das Borboletas» é esse retrato fiel de um cenário macabro e as tentativas inconscientes e (aparentemente) distorcidas de um grupo de jovens a quem o destino lhe reservou a pior história.
Mais do que a história em si, recomendo o livro de Dot Hutchison sobretudo pelo alarme à complexidade do ser humano que não pode, nem deve, ser desconsiderada.
 
 
Esta leitura contou com o apoio:
 
 
 
Boas leituras,
 

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Denise disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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