Entre ser e fazer | reflexões #3

quinta-feira, 9 de abril de 2020

 

A expressão «fazer amor» é uma intriga. Fazer é um verbo com esforço, que implica falta, ausência ou incómodo. Ter de fazer uns bolos, ter de fazer umas compras ou, mais redutor ainda, ter de fazer cócó.
Porquê «fazer amor» se o amor já existe por si mesmo? É como a fé dos verdadeiros, a crença em algo que não se vê, mas que existe. 
Então, como se faz amor? Muitos seriam capazes de uma receita pronta, que seria mais ou menos assim: "... este é o meu pénis, vou inserir na tua vagina, vai seguir-se um vai vem das minhas ancas robustas, vamos friccionar a zona, como quem bate claras em castelo. E nasce o amor, feito receita de dias iguais. 
Tudo isto me traz a necessidade de reivindicar verbos. Exige-se a troca de «fazer» por «ser». Ele não vai fazer. Ela não vai fazer. Eles não vão fazer. 
Ele vai ser. Ela vai ser. Eles vão ser. Entre ramificações de pernas, braços, bocas e línguas, serão o amor que dá beleza à monstruosidade de corpos e fluidos trocados. Porque só sendo se vê o que não está lá. 
Nada se faz em matérias genitais e cardíacas. Tudo se é.
E nesse tudo, tudo é uma questão de fé.

Assim seja.
Amém.

"E serão os dois uma só carne." | Marcos 10:8


Seja feliz,

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