«A Reclusa», obra de estreia de Debra Jo Immerbut, conta-nos a história de duas pessoas cujo ponto comum são as dores de alma mal resolvidas. Se por um lado temos uma mulher condenada a 52 anos de cadeia cuja culpa surge sempre toldada pela dúvida, por outro, temos um psicólogo deprimido, escondido ainda na dor de quem não ultrapassou o seu mais recente falhanço profissional. Nessa sequência, o seu maior anseio de vida é superar-se a si mesmo, nem que para tal seja necessário negar todas as suas convicções, pessoais e profissionais.
É uma história de amor? Não.
Mais do que uma suposta história de amor, este «A Reclusa» é um livro que nos conduz aqueles lugares sombrios de que todos nós temos um pouco. Mais do que uma história de superação, este é um livro que nos leva a refletir sobre a fragilidade humana e até que ponto estamos dispostos a ir, a renegar-nos, por um pequeno rasto de luz no rosto. Uma espécie de recomeço.
Se para Miranda, sair da cadeia lhe parece impossível, para Frank, o psicólogo, vê nessa impossibilidade a sua saída, a necessidade de transgredir, de optar pelo lado errado, pela primeira vez.
Vou repetir, não estamos perante uma história de amor apesar do discurso de Frank o parecer, por vezes. A ingratidão da psicologia será, sempre, a sua lentidão e talvez por isso mesmo Frank, perdido numa vida que o engoliu, deixou de olhar para dentro e perceber sinais que, para qualquer técnico de saúde mental, sempre lhe estiveram a dançar nos olhos.
O leitor que se aventure nesta história viverá momentos de tensão, de alguma ansiedade e, no final, a certeza que impera numa vida conturbada: serão sempre os nossos erros a prevalecer e o sofrimento de quem lhes tenta escapar, a tormenta de todos os dias.
Creio ainda que falar sobre este livro, tecer-lhe todos os pormenores, irá empobrecê-lo. Este é um daqueles exemplos em que o livro se ramifica e se apodera das nossas próprias experiências pessoais para, depois então, refletirmos mais sobre esta complexidade de que todos somos feitos e que nada em nós nos dará, em momento algum, a legitimidade ao julgamento fácil. Se para si quebrar as regras sociais e morais é impensável, para outra pessoa, quebrar pela primeira vez uma regra que sempre defendeu, poderá representar a porta da oportunidade a uma vida que sempre se desejou.
E nisso, o julgamento alheio, vale e sempre valerá, desculpe-me o francês, a ponta de um corno.
Esta leitura contou com o apoio:
Seja feliz,
Sem comentários:
Enviar um comentário