Este ano assumi um compromisso sério com Irène Nemirovsky.
«O Baile» foi o primeiro livro que li da autora, já há uns anos. Ficaria a saber, mais tarde, que a história daquele livro foi baseada na relação difícil de Irène com a sua mãe, uma mulher muito concentrada na beleza, no medo de envelhecer e muito distante.
Pormenores à parte, hoje venho falar-lhe de um dos seus livros mais emblemáticos: «Suíte Francesa». A história em torno deste livro é linda a tocante. A ideia inicial da autora era construir um livro dividido em cinco partes, inspirada na estrutura da Quinta Sinfonia de Beethoven. Acredite, este livro tem música do princípio ao fim, tamanha sensibilidade de uma das escritoras, para mim, mais inesquecíveis de sempre. Desculpe se exagero mas, como lhe disse, estou comprometida. Ultimamente são inúmeros os textos e artigos a que me dedico, sobre Irène.
Apesar de inicialmente a ideia do livro se centrar em cinco partes, Irène Némirovsky só conseguiu escrever duas, antes de ser presa em Julho de 1942. Morreu em Auschwitz no mês seguinte. Foi a sua filha, Denise Epstein, que descobriu mais tarde os manuscritos da sua mãe. Por considerar que, eventualmente, se trataria de um difícil diário das memórias de sua mãe, passaria mais tempo ainda até, finalmente, os abrir e descobrir que tinha entre mãos um livro. Este magnífico livro de que hoje eu, você, toda a gente que o entenda, pode ter a (feliz) oportunidade de ler e conhecer.
Este será um texto entusiasmado, desculpe-me mas não o consigo evitar. Irène Némirovsky está a tornar-se numa das minhas escritoras mais admiradas. A sua escrita é nua, despojada. A simplicidade com que tecia as suas histórias, cujas personagens estudava meticulosamente em primeiro lugar, provam que não são precisos muitos artefactos na palavra para que uma mensagem arrebatadora atropele o mais cauteloso leitor.
«Suíte Francesa» é um romance sobre a guerra, sobre o êxodo de Paris após a invasão dos alemães de 1940. Enquanto vivia na pele todo aquele tumulto, Irène escreveu, relatou e expurgou muitos dos medos e preconceitos tantas vezes escondidos pelo medo.
«Tempestade em Junho» e «Dolce» são as duas partes que integram o livro, que se unem entre si, desde a fuga de inúmeros franceses até («Dolce») um momento de história que nos obriga, enquanto leitores, a olhar para dentro e questionar a possibilidade de vislumbrar os soldados alemães como gente. Parece cruel, escrito com esta aparente leviandade, mas acredite que ao ler uma improvável e inacabada história de amor como esta, exige-se uma empatia que nos faz questionar - imagine! - como se sentiriam também eles, soldados alemães, tantos deles sem vontade própria, que mataram e morreram porque alguém lhes diz ter de ser assim.
Talvez por esse mesmo motivo, a escritora acabou por ser alvo de duras críticas, sobretudo pelo preconceito francês e a empatia pelo inimigo. Polémicas à parte, Iréne Némirovsky escreveu uma história com limites quase impossíveis de tamanha sensibilidade, que nos fascina, amedronta, que nos faz desejar que o livro nunca mais termine. Levamos em nós cada uma das personagens, desde a mulher que perdeu o marido em combate e combate agora, na solidão e na pobreza, formas de alimentar o seu bebé de colo. Levamos, para sempre, Lucile: mulher arrebatadora, de uma moralidade que aflige, de um coração comedido pelas linhas de uma História que a obrigou a que assim fosse.
Leia, leia este livro. Nunca foi minha intenção contar esta história em absoluto até porque, para isso, me basta dizer-lhe que a II Grande Guerra Mundial está no centro do livro, numa escrita que se tornou um marco sobre um momento da história que ninguém esquece. Leia este livro. Mesmo que a sua motivação seja, primeiramente, apenas movida pelo enquadramento histórico, acredite que quando começar a ler as primeiras folhas, ficará tão envolvido pela vida destas pessoas, pelo amor que nasce onde menos se espera que quando der por si, não conseguirá regressar.
E vai agradecer por isso.
Pormenores à parte, hoje venho falar-lhe de um dos seus livros mais emblemáticos: «Suíte Francesa». A história em torno deste livro é linda a tocante. A ideia inicial da autora era construir um livro dividido em cinco partes, inspirada na estrutura da Quinta Sinfonia de Beethoven. Acredite, este livro tem música do princípio ao fim, tamanha sensibilidade de uma das escritoras, para mim, mais inesquecíveis de sempre. Desculpe se exagero mas, como lhe disse, estou comprometida. Ultimamente são inúmeros os textos e artigos a que me dedico, sobre Irène.
Apesar de inicialmente a ideia do livro se centrar em cinco partes, Irène Némirovsky só conseguiu escrever duas, antes de ser presa em Julho de 1942. Morreu em Auschwitz no mês seguinte. Foi a sua filha, Denise Epstein, que descobriu mais tarde os manuscritos da sua mãe. Por considerar que, eventualmente, se trataria de um difícil diário das memórias de sua mãe, passaria mais tempo ainda até, finalmente, os abrir e descobrir que tinha entre mãos um livro. Este magnífico livro de que hoje eu, você, toda a gente que o entenda, pode ter a (feliz) oportunidade de ler e conhecer.
Este será um texto entusiasmado, desculpe-me mas não o consigo evitar. Irène Némirovsky está a tornar-se numa das minhas escritoras mais admiradas. A sua escrita é nua, despojada. A simplicidade com que tecia as suas histórias, cujas personagens estudava meticulosamente em primeiro lugar, provam que não são precisos muitos artefactos na palavra para que uma mensagem arrebatadora atropele o mais cauteloso leitor.
«Suíte Francesa» é um romance sobre a guerra, sobre o êxodo de Paris após a invasão dos alemães de 1940. Enquanto vivia na pele todo aquele tumulto, Irène escreveu, relatou e expurgou muitos dos medos e preconceitos tantas vezes escondidos pelo medo.
«Tempestade em Junho» e «Dolce» são as duas partes que integram o livro, que se unem entre si, desde a fuga de inúmeros franceses até («Dolce») um momento de história que nos obriga, enquanto leitores, a olhar para dentro e questionar a possibilidade de vislumbrar os soldados alemães como gente. Parece cruel, escrito com esta aparente leviandade, mas acredite que ao ler uma improvável e inacabada história de amor como esta, exige-se uma empatia que nos faz questionar - imagine! - como se sentiriam também eles, soldados alemães, tantos deles sem vontade própria, que mataram e morreram porque alguém lhes diz ter de ser assim.
Talvez por esse mesmo motivo, a escritora acabou por ser alvo de duras críticas, sobretudo pelo preconceito francês e a empatia pelo inimigo. Polémicas à parte, Iréne Némirovsky escreveu uma história com limites quase impossíveis de tamanha sensibilidade, que nos fascina, amedronta, que nos faz desejar que o livro nunca mais termine. Levamos em nós cada uma das personagens, desde a mulher que perdeu o marido em combate e combate agora, na solidão e na pobreza, formas de alimentar o seu bebé de colo. Levamos, para sempre, Lucile: mulher arrebatadora, de uma moralidade que aflige, de um coração comedido pelas linhas de uma História que a obrigou a que assim fosse.
Leia, leia este livro. Nunca foi minha intenção contar esta história em absoluto até porque, para isso, me basta dizer-lhe que a II Grande Guerra Mundial está no centro do livro, numa escrita que se tornou um marco sobre um momento da história que ninguém esquece. Leia este livro. Mesmo que a sua motivação seja, primeiramente, apenas movida pelo enquadramento histórico, acredite que quando começar a ler as primeiras folhas, ficará tão envolvido pela vida destas pessoas, pelo amor que nasce onde menos se espera que quando der por si, não conseguirá regressar.
E vai agradecer por isso.
O filme foi produzido por Saul Dibb em 2014.
O trailer, aqui:
Até ao momento, poderá também encontrar no blogue as opiniões dos seguintes livros de Irène:
"O Baile", aqui
"O Senhor das Almas", aqui
💓
Seja feliz,
1 comentário:
Grande livro!
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