Os Bebés da Água (Charles Kingsley)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019


Charles Kingsley foi um romancista inglês nascido em Dartmoor no ano de 1819. Do que li sobre o autor, e sobre este livro em particular, a escrita de Kinsley destaca a sua capacidade descritiva. A sua obra reflete igualmente o interesse do autor pelas questões sociais, este aspeto, largamente sublinhado neste «Os Bebés da Água», um conto de fadas sobre Tom, um menino limpa-chaminés.
 
Nesta peculiar história conheceremos então o jovem Tom, sem mãe (falecida) e sem pai (ausente), que obedece às ordens do severo Grimes. Tom é espancado diariamente, trabalha de sol a sol, não conhece a cor da sua pele, esta, sempre escondida pelo negrume das limpezas que todas as chaminés lhe exigem.
 
É um menino triste, solitário e inocente. Obedece porque sabe ser o certo na tentativa de apanhar menos estalos e pontapés do sempre mal humorado, e ambicioso, Grimes.
 
Um dia, após serem chamados a fazer a limpeza na grande casa do Sr. John, homem de elevado estatuto social naquelas redondezas, a vida de Tom prevê uma mudança radical. Ao entrar na enorme mansão, percorrendo as chaminés e fazendo todo o trabalho sujo que Grimes evita, Tom acaba por se perder, indo cair ao quarto de uma jovem menina, Ellie. O menino ficou estupefacto: pela primeira vez na sua vida percebeu que a cor da sua pele não era aquela. A branquidão e a limpeza de Ellie suscitaram em Tom uma raiva inconsciente, apenas visível pelas suas faces agora coradas. Ao mesmo tempo encantado e triste pela beleza da menina, Tom deixou-se ficar quieto no grande tapete, contudo, o estrondo da sua queda acordou Ellie que, também ela estupefacta, gritou assustada.
 
Os gritos ecoaram pela casa e numa cadeia progressiva tomada pelo medo dos presentes, consideraram Tom um ladrão. Correu sem parar, saindo da casa, e galgando ruas e florestas. Ninguém o conseguiu apanhar e o jovem rapaz, tomado de um enorme cansaço depois de descer todo aquele inacreditável monte, encontrou uma professora com os seus alunos. Após o choque inicial, a bondosa senhora deu-lhe de comer e um lugar onde pudesse repousar.
 
Eis o momento em que tudo muda. O cansaço de Tom fê-lo adormecer e ao acordar tornara-se num bebé da água. Claro leitor, nem ouse desacreditar deste convicto narrador. Os bebés da água existem, as fadas igualmente, tudo aquilo que não se vê tem uma vida por descobrir:
 
"Fica sabendo que as coisas mais maravilhosas e fortes que há no mundo são precisamente as que ninguém consegue ver. Há vida em ti; e é a vida que há em ti que te faz crescer, bulir e pensar, embora a não possas ver. Há vapor numa máquina a vapor; é isso que a põe em movimento, embora não o possamos ver. Devem portanto existir fadas neste mundo; e é bem possível que sejam elas quem faz o mundo girar, segundo reza a velha melodia: C'est l'amour, l'amour, l'amour qui fait le monde à la ronde."
 
Assim começa uma aventura que não deixará ninguém indiferente. Tom percebe que algo mudou, a sua pele agora é limpa, alimenta-se das mais especiais iguarias, é livre, pode vir a ser feliz. Não acredite, porém, que ser um bebé da água é ter uma vida plena só porque sim. Enganem-se todos aqueles que acreditam que a vida flui sem antes se preparar o coração. E será essa a aventura destinada a Tom: por entre mundos estranhos, criaturas assustadoras, cenários abstratos, será conduzido por fadas - também elas a desempenhar papéis muito definidos - a descobrir o melhor de si mesmo e que esse melhor, esse coração finalmente arrumado em caixa de veludo, carece de alguns sacrifícios. Alguns, muito difíceis.
 
Charles Kingsley, através de uma parábola, faz-nos chegar uma sublime crítica social e moral em que a complexidade humana é assunto de ordem do dia sem, no entanto, destacar a esperança como palavra final.
 
 
Gostei imenso desta aventura. Se é destemido, se acredita no poder dos corações arrumados, dos sonhos, da crença em geral, esta aventura também é para ti. Vá vivê-la!




Ilustrações de W. Heath Robinson
(lindíssimas!)




        💚
Seja feliz,

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